BUSCA
No véu negro da noite meus
pensamentos eclodiram…
Há ânsias.
Um desejo incontrolável de
vê-la vem pulular em meus pensamentos….
Sinto-me novamente em mutação
- serei o substrato da titânica luta entre o meu EU e um Ego que se sujeita aos
imperativos mundanos?…
Há nas sombras de meu quarto
escuro luminescências de vida - vida contida em
meias-palavras: frágeis,
densas… tensas! Há um momento-inspiração projetado em minha mente.
Olho para o teto encoberto de
surpresas noturnas e a sinto - ahhh, como a sinto!
Você é isso - suave ave
branca a aliviar as trevas. Farfalhar mágico de asas alçando voos
incomensuráveis… Fecho os olhos e novamente o portal do meu coração é
entreaberto;
Levanto-me e vou à rua… O
vento assobia em meus ouvidos a sua canção. Caminho uma porção de passos, sem
ter norte ou mesmo um porquê. Metamorfoseio-me em criatura noctívaga,
transeunte do tempo querendo vencer os espaços - ou encurtá-los… Trazer o
incomensurável para dentro do infinito que habita para além de minhas
aparências fugazes.
Vou chutando as pedras sem
saber que com elas também estão rolando um tempo de lágrimas e de alegrias incontidas,
inesquecíveis. Fecho meus olhos novamente, sento-me em uma praça lotada de
vazios, sob a auréola de um lampião e sonho:
BRANCAS DUNAS…
BRANCAS NUVENS…
Sussurro ao vento o seu nome…
perscruto-a! Caminho, afundando meus pés nas dunas e a vejo… Alva como a areia,
balbuciando um sono fantástico… Corro sobre as garras da areia e não consigo
alcançá-la. Choro e minhas lágrimas se definham ao final dos cômoros, rasgam as
areias e você vem como um pássaro a saciar da sede que a resseca.
Então desço, rolo pelos
cômoros…
A ânsia aumenta… Quero cortar
suas asas, pois assim não alçarás mais voos longínquos. Estendo a mão, busco
agarrá-la, mas… lá se foi o pássaro… Há em seu lugar apenas resquícios de
poeira de dunas, de tempo…
Refaço-me desse pó, que
penetra como navalha em meus olhos, cortando e ferindo minhas pupilas…
Sigo.
Passos longos, mãos nos
bolsos, colarinho levantado para enfrentar a fúria do vento… há um frio absurdo
zoando sons fantasmagóricos em meus ouvidos.
Ao longe… bem ao longe,
escuto uma canção suave, que alivia a perturbação do frio - uma canção suave e
deleitosa. Corro e encontro uma ninfa exalando esses sons, fazendo um mosaico
com os acordes sonoros. Alivio-me por minutos de meus pensamentos… Vagueio ao
som… Sorrio e vejo que alguém ternamente corresponde ao meu gesto.
Está longe, mas sinto a
intuição bater forte em meu coração. Continuo a sorrir, a distância já não é
mais abissal… firmo os olhos e… ohhh, de novo a vejo!
Você abre os braços e eu mais
uma vez corro… Mas, de repente, as luminescências de vida se apagam e eu mais
uma vez me perco… a perco.
Abro e fecho os olhos
repetidamente e… novamente:
BRANCAS
DUNAS…
BRANCAS NUVENS!
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