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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O PÁSSARO DEGÃO















O PÁSSARO DEGÃO

Neste instante remonto à minha infância,
Nas ruas serpenteadas e enevoadas do Tijuco,
Num tempo – e que tempo! – que o mês de Julho
Era sim – sem dúvida – o mais frio em São João d’El-Rey...

Bem cedinho, no limiar gélido
Da alvorada orvalhada,
Degão se preparava para voar...
Saía a farfalhar suas asas
Nas brumas densas que a madrugada apresentava...

Eu, ainda tão moleque – menino de suspensório e chinelo de tiras,
Desafiava o meu sono
E caminhava até a porta de nossa morada...

Ao longe, meu pássaro Degão, eu ia acompanhando
Esticava minha visão para além dos limites possíveis
Mas a cada farfalhar de suas asas ia ficando mais difícil evidenciá-lo
Em meio àquela neblina que já o absorvia...

Todas as madrugadas eram assim...
Tristes no começo, mas felizes quando o ocaso surgia
Porque junto dele Degão a casa retornava...

Um dia, porém, numa madrugada
Diferente de todas as demais
Ele alçou um voo inigualável
E não foi pelas brumas densas e geladas do Tijuco...

Eu não o vi voando naquela alvorada... não, não!...
Meus olhos não captaram mais a sua imagem,
Mas naquele dia eu percebi que
Não são apenas os olhos do corpo que podem enxergar,
Meu corpo pôde sentir o que os meus olhos jamais captaram...


Eu o senti alçando o voo mais ousado,
Aquele a que todos os homens, ainda, temem.
A atmosfera não era mais a do Tijuco,
Os céus não pertenciam a São João d’El-Rey...

Não sei exatamente onde fica o que senti,
Sim!, porque eu senti muito mais do que vi...
E não era deste mundo...
Só sei que não havia mais brumas e nem neblina...
A estrada era sedosa e sutil
E na nova morada que Degão aportou
Não havia portas, nem janelas, nem paredes...

Você – meu pássaro Degão – era agora LIVRE...

FERNANBAS
Baseado na obra
“A menina e o Pássaro Encantado",
De Rubem Alves.   

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