Seguidores

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016






SOBRE MADRUGADAS... PEDALADAS... SOBRE DEGÃO





Houve um tempo de madrugadas geladas... em estradas d'El-Rey de tempos de outrora... Muitas... Cheias de histórias, belas histórias. Garra, determinação - foco!


E nessas madrugadas frias que incorporavam a sutileza do orvalho com o tempo enevoado, um homem sempre se destacava... fosse pelo seu porte, fosse pelo seu semblante e seu sorriso meio que de lado, entremeado por lábios finos no seio de um tez alva-rosada...

Quando elas - as madrugadas catárticas - chegavam ele já as tinha absorvido em verdadeira simbiose... Saltava de sua cama quente, donde ficava ao lado de Maria Cardoso e se preparava para que com sua bicicleta - a velha companheira de lutas - pudesse ir a mais um dia de trabalho... Vestia o seu paletó surrado, colocava o seu chapéu para ajudá-lo a cobrir a calvície que há muito já o acompanhava; prendia as barras de suas calças para que não se sujassem de graxa e partia rumo à Fábrica Mazzoni...


Todos os dias... nessas lidas diárias...
Nas madrugadas(!),
Que o tirava da cama quente ao lado de Maria Cardoso
E o punha a pedalar sob sua névoa gélida...

Houve um tempo de muitas dessas madrugadas geladas... em estradas d'El-Rey de tempos de outrora... Muitas!... Cheias de histórias, belas histórias. Garra, determinação - foco!

Madrugadas - névoa - frio...

O homem que metabolizava tais estações pedalava pelas ruas serpenteadas do Tijuco de El-Rey, ainda quase que desertas... Quanto mais ia, menos era possível vê-lo, pois a cada pedalada o limite entre o tempo enevoado e o homem da bicicleta se dissipava...

Todos os dias...
Nas madrugadas que duraram mais de cinquenta anos!

Chegou um dia, já passados tantos, em que ele não pôde mais pedalar, pois suas pernas já não correspondiam aos comandos necessários para fazerem sua velha companheira se locomover. Ele então, trocou a velha bicicleta - sua fiel companheira - por uma velha poltrona... que ficava no pátio... perto do quintal a que chamávamos de horta...

Todos os dias...
Não mais nas madrugadas...

Todas as manhãs e tardes lá estava ele - sentado em sua poltrona - quieto... reflexivo... extasiado... Talvez (re) lembrando suas longas estações sazonais - as do corpo e as do Espírito, nas quais, sua virilidade encontrava-se aguçada...

Histórias de madrugadas que somente a ele pertenciam - um tipo de catarse silenciosa...

Um dia, embevecido ele partiu - fez a longa travessia; a instigante viagem... Nesta partida não havia madrugada e nem aquele tempo enevoado... As ruas já não eram mais as do Tijuco de El-Rey e a estrada pela qual ele caminhava era sedosa - com um imenso horizonte vivo que prenunciava o seu destino:


REPOUSAR NOS BRAÇOS DO ETERNO!





**********************************************************************************************************

FERNANBAS - Fernando d'El-Rey

29 de DEZEMBRO de 1917...

Hoje meu PAI, Antônio Batista dos Santos, completaria 99 anos se estivesse aqui no plano carnal... mas está melhor!, tornou-se incólume a essas intempéries... Está em sua essência Imortal!

A BÊNÇÃO MEU PAI!





segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O PÁSSARO DEGÃO















O PÁSSARO DEGÃO

Neste instante remonto à minha infância,
Nas ruas serpenteadas e enevoadas do Tijuco,
Num tempo – e que tempo! – que o mês de Julho
Era sim – sem dúvida – o mais frio em São João d’El-Rey...

Bem cedinho, no limiar gélido
Da alvorada orvalhada,
Degão se preparava para voar...
Saía a farfalhar suas asas
Nas brumas densas que a madrugada apresentava...

Eu, ainda tão moleque – menino de suspensório e chinelo de tiras,
Desafiava o meu sono
E caminhava até a porta de nossa morada...

Ao longe, meu pássaro Degão, eu ia acompanhando
Esticava minha visão para além dos limites possíveis
Mas a cada farfalhar de suas asas ia ficando mais difícil evidenciá-lo
Em meio àquela neblina que já o absorvia...

Todas as madrugadas eram assim...
Tristes no começo, mas felizes quando o ocaso surgia
Porque junto dele Degão a casa retornava...

Um dia, porém, numa madrugada
Diferente de todas as demais
Ele alçou um voo inigualável
E não foi pelas brumas densas e geladas do Tijuco...

Eu não o vi voando naquela alvorada... não, não!...
Meus olhos não captaram mais a sua imagem,
Mas naquele dia eu percebi que
Não são apenas os olhos do corpo que podem enxergar,
Meu corpo pôde sentir o que os meus olhos jamais captaram...


Eu o senti alçando o voo mais ousado,
Aquele a que todos os homens, ainda, temem.
A atmosfera não era mais a do Tijuco,
Os céus não pertenciam a São João d’El-Rey...

Não sei exatamente onde fica o que senti,
Sim!, porque eu senti muito mais do que vi...
E não era deste mundo...
Só sei que não havia mais brumas e nem neblina...
A estrada era sedosa e sutil
E na nova morada que Degão aportou
Não havia portas, nem janelas, nem paredes...

Você – meu pássaro Degão – era agora LIVRE...

FERNANBAS
Baseado na obra
“A menina e o Pássaro Encantado",
De Rubem Alves.   

domingo, 10 de janeiro de 2016

Bola de Cristal Azulada















Bola de Cristal Azulada

Procura-se uma bola de cristal azulada,
Que de tanto azul se insinue em mar...
Procura-se uma bola de cristal azulada,
Que de tanto mar se confunda ao ar...

Procura-se uma bola de cristal azulada,
Que se possa em suspenso guardar,
Sem se preocupar que venha se quebrantar...

Procuram-se mãos especiais,
Que possam manusear
Essa frágil bola de cristal azulada,
Que pretende se insinuar em mar ou ar,
Que com tanto azul, quem sabe, de forma nada velada
Devolva à Terra, esse tom que aqui quase não se vê mais...