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sábado, 11 de abril de 2015

A RESSURREIÇÃO NOSSA DE CADA DIA

Numa tarde eu estava no computador e de repente eu comecei a ouvir o barulho da chuva a cair no quintal, começou de mansinho e foi apertando, ficando mais vigorosa e com ela vieram os trovões e seus guardiães - os relâmpagos.
Não coincidentemente eu estava ouvindo Ronan Keating em sua If Tomorrow Never Comes... daí comecei a viajar em um pensamento que me veio à mente: E SE NÃO HOUVER AMANHÃ?
Daí nasceu tal prosa poética que divido, mais uma vez com vocês.
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A Ressurreição Nossa de Cada Dia
Ao findar de cada dia é certo que entregaremos nossos corpos à noite e dela obteremos, após um sono que quase cessará o sopro da vida que ontem estava conosco, uma repaginada nesta existência...
RESSURREIÇÃO... Isto é ressurreição... Renascermos a cada despertar com o mesmo corpo, com a mesma identidade, com os mesmos caracteres que nos constituem individualidades, porém, com uma nova oportunidade de nos estabelecermos neste mundo impermanente...
“Somos convidados cada dia
a ir deitar sem saber o
que esperar do dia de amanhã.
É isto, esse total mistério
e infinitude de possibilidades
que nos dá, senão o sentido,
a vontade de viver”...
E nessas noites vivificantes eu me coloco a refletir exatamente
sobre essas titânicas dicotomias:
o temporal e o eterno;
o transitório e o permanente;
a finitude e o indelével...
Ouço a chuva caindo incessantemente,
Vindo acompanhada de ventos fortes
A farfalharem os galhos dos maravilhosos bouganvilles
Que compõem e emolduram a minha verde rua...
Esses ruídos brancos – brandos e cadenciados - da chuva são convites,
Às mais das vezes, tentadores, à gostosa preguiça,
Indutora de um irresistível poder sonífero...
Mas esse espelho d’água também tem
Um poder magnético, hipnótico mesmo...
Chegando, por efeito cascata, a impor-nos mergulhos abissais
na porção quintessenciada do self,
Levando-nos a reflexões mais místicas
Tanto em relação à nossa condição perante o mundo,
Quanto em relação às forças que regem alguns de seus determinismos...
Quando a vidraça da janela reverberou
E expandiu o clarão do relâmpago que
Triscou incandescente os céus
Eu volvi minha cabeça até seus espelhos
E ali me vi refletido...
E nesse pano de fundo das águas chorosas
Espocando à luz de coriscos travessos
A nossa imagem desnuda – tal qual nós a sabemos,
Eu me peguei a refletir sobre o AMANHÃ.
Talvez eu renasça amanhã em minha ressurreição de cada dia...
Talvez não.
Caso eu ressurja será um PRESENTE...
O sopro da vida está a assoprar incessantemente,
Permeando a atmosfera de minha morada...
Então pode ser que eu seja vivificado;
Mas também há que se considerar o vento-sul:
Esse endiabrado El Niño,
A agir sobre o sopro vivificante,
E daí eu não conseguir inspirá-lo
E já não estar um Ser edificando e nem tão edificante...
Trabalhar entre o sim, o não ou o talvez será sempre assim:
Talvez eu acerte... talvez nem tanto...
Talvez eu erre e peque feio!
Isto é tão exato quanto à comparação que se pretenda segura
Ao vislumbrar-se o Planalto Central de longe,
Escolhendo-lhe um ponto de referência...
Tenderemos a atestar que tudo está bem perto
Do ponto de vista de nosso precário olhar,
Por conta de enxergamos tudo na linha do horizonte...
Mas e então, e se o amanhã nunca chegar?...
Pode ser que eu me permita chorar,
Pode ser que não!...
Pode ser até que eu ria
Em enxergar-me transeunte espectral
Caminhando os mesmos caminhos do ontem,
Em que ganhei o PRESENTE.
A dialética das hipóteses
Estribada por um SE ali entremeado,
Por um trêmulo, esfaimado e esfacelado TALVEZ
É por - via de regra - tão perversa
Que por vezes me incute a certeza, em simulacro,
De que se o amanhã nunca chegar
Jamais terei outro presente,
Mas tão-somente uma realidade reversa... adversa.
Se o amanhã vier mais uma vez,
Ressuscitando-me de uma morte noctâmbula,
Com ele virá mais um PRESENTE
E então será sábio esquecer-me
Do SE, ou do TALVEZ...
Lacerarei o papel bonito que o envolve
E recomeçarei o meu Carpe Diem
Porque pode ser que depois - na manhã seguinte
O amanhã nunca chegue..

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